Expedição Amigos das Águas 2019: aspectos e análises
Em 2019 a Expedição Científica Amigos das Águas, que percorre o rio São Francisco de Três Marias/MG a Pirapora/MG, um trecho de aproximadamente 150 quilômetros, completou 30 anos de existência. E o SAAE-Pirapora tem o orgulha de participar dessa empreitada de preservação e recuperação do Velho Chico, desde 2004, por 15 anos de forma ininterrupta.
Este ano a expedição aconteceu entre os dias 6, 7 e 8 de setembro e os expedicionários trouxeram na bagagem aspectos positivos e negativos. A maior preocupação dos participantes está relacionado com a qualidade da água e a pesca predatória. “Percorro este rio quase todos os dias. A pesca predatório me preocupa muito. Em todos os períodos, até na piracema, aparecem barcos preparados com todos os tipos de equipamentos, eles só param quando pescam quilos de peixes. Até a matriz eles pescam, dessa forma, não há reprodução, pois interrompem o ciclo dos peixes”, explicou o pescador e comandante da embarcação do SAAE, Josué Reis da Costa.
Questionado sobre a quantidade de peixes no trecho da represa de Três Marias até Pirapora, o pescador faz um relato pessimista. “Tem pouco peixe. Dourado sumiu, o mandi amarelo não tem, mas você ainda pesca o prata, assim como a piranha. O surubim, que é símbolo desse rio, se o pescador for bom ainda pega. Por isso, muitos apelam para a pesca ilegal, mas isso contribui para o sumiço de várias espécies. É preciso fiscalização, estipular cota para cada pescador ou embarcação”, alerta Josué.
Responsável pela coleta da água, que será levada para a análise, o SAAE-Pirapora colheu amostras em cinco pontos diferentes, durante todo o percurso. O intuito é ter vários parâmetros de comparação e um vasto material, tanto qualitativo quanto quantitativo. “É um trabalho bastante técnico, com registros fotográficos e coleta de amostras de água. Em cada ponto analisamos 16 parâmetros diferentes. Esses resultados dirão se a qualidade da água está de acordo com a legislação em vigor”, esclareceu o biólogo da autarquia, Patrick Nascimento Valim.
De acordo com Valim, o rio aparenta estar se recuperando em alguns trechos, principalmente em virtude da melhoria da qualidade da água dos afluentes. “Ano passado vimos muitos bancos de areia e praias formadas, isso aconteceu pela baixa vazão do rio, menos que 300 m³/s. Este ano não vimos isso, pois a vazão aumentou para 470 m³/s. Temos que ressaltar que com mais água, o rio consegue diluir mais os poluentes. Outro dado positivo é que este ano, não encontramos nenhum peixe morto pelo trajeto. Observamos também que a turbidez do rio Abaeté, afluente do Velho Chico, estava baixa. Não era uma turbidez alta, como em anos anteriores, isso pode ter ocorrido devido as melhorias de condições em toda a bacia do rio Abaeté. Mas, tudo isso só será comprovado com os resultados das análises das águas que coletamos”, observou o biólogo do SAAE.
O paisagista e ambientalista Mac Donald Morais, coordenador da expedição, finalizou a empreitada bastante contente. “Este ano estou muito feliz, pois tinha água em abundância para navegar durante todo o percurso. Muitos pássaros, sinal que tem peixes nas partes rasas para a alimentação deles. Esses cardumes de piabas são um bom indicador da recuperação do rio”, apontou Mac.
O coordenador também observou que em alguns trechos a mata está com um aspecto melhor. “Ainda existem áreas degradas com nada de mata ciliar, porém, vimos matas com um aparência bem melhor, devido ao aumento do nível do rio, que fez o lençol freático chegar até a vegetação rasteira e arbustos, que normalmente ficam com um aspecto feio. Agora é aguardar os resultados das análises das coletas de água feitas pelo SAAE. Será uma oportunidade de acabarmos com as especulações e desinformações sobre a chegada do rejeito de Brumadinho no rio São Francisco, em especial no trecho de Três Marias à Pirapora”, finaliza Mac.